Património Cultural em Portugal - Campos Património

Existem cerca de 34 000 monumentos em Portugal sem qualquer protecção (cf. Estudo Património em Portugal - Avaliação do Valor Económico e Social). Significa que qualquer pessoa ou entidade pode fazer o que bem entender com eles; que não há nenhuma instituição responsável por aqueles bens; que não são elegíveis para fundos comunitários que exigem classificação patrimonial. Como atender, então, a este património, partindo do princípio que este “estado de coisas” não é evidentemente aceitável numa sociedade evoluída?

Para ultrapassar circunstâncias similares, França criou, há quase 60 anos, os Campos Património: modelos de intervenção baseados na gestão de proximidade – a associação, colectividade ou grupo de cidadãos do local que diz “presente” na valorização daquele bem colectivo; na definição, acompanhamento e report dos trabalhos a empreender por parte de pessoal qualificado (conservadores-restauradores, arquitectos, engenheiros, arqueólogos, conforme a natureza da intervenção); e armados de uma bateria de cidadãos voluntários sem discriminação de origem, idade, classe social ou especialização. É o Ministério da Cultura francês que financia parte destas acções e delega em quem está no local a intervenção a empreender: até hoje, mais de 1000 monumentos foram assim recuperados em França.

Na AR-PA - Bienal Ibérica de Património Cultural, em Sintra, terá lugar, a 4 de Dezembro, a International Heritage Talk “Campos Património - Voluntariado em Património Cultural”, com a participação do Ministère de la Culture de França, de Marie-Georges PAGEL-BROUSSE da Union REMPART, de José Delgado Rodrigues, consultor em conservação de património, de Przemyslaw Nocun da Universidade de Jagiellonian, Cracóvia e International Council on Monuments and Sites (ICOMOS) Polónia, de Juan Miguel Gutiérrez Pulgar da Fundación Monasterio de Santa María de Rioseco, Espanha, de Marine Mizandari do The National Trust of Georgia, e mais.

Existem cerca de 34 000 monumentos em Portugal sem qualquer protecção: os Campos Património, com a sua metodologia de intervenção assente em equipas de Conservadores-restauradores; a obrigatória especialização destes técnicos numa vertente pedagógica; o desenvolvimento de programas de Educação Patrimonial para os miúdos; o modelo Estaleiro-Aberto em que todos podem entrar e questionar; o forte intercâmbio cultural que o carácter internacional dos Campos proporciona; o incentivo a que os jovens sigam a área do Património e da Conservação & Restauro, em particular; e a engenharia financeira alternativa que viabiliza estas iniciativas – tudo isto é uma possível resposta ao vazio da protecção da maior parte do património de Portugal e que importa sistematizar. Uma resposta na qual a Sociedade Civil é parte considerável da solução.

Entrada livre. Porque é a falar (olhos nos olhos...) que a gente se entende.